Monday, September 17, 2007

Épico

Nossa. Já fazia muitos meses que eu não escrevia do meu pc, em casa mesmo. 99% dos textos que publico por aqui são coisas digitadas no serviço nas horas de ócio, que a cada dia que se passa tornam-se mais e mais escassas. Chega a ser engraçado, porque este teclado está TÃO novo que fica até difícil digitar algumas coisas. Meu pc é usado basicamente para escutar mp3, ver vídeos que pego na net e ler scans.

Recomeçando. Quando decidi escrever este post (algo há mais ou menos uns 6 meses), eu já tinha seu titulo na cabeça. Épico. Mas agora que cheguei neste ponto, não sei nem se devo realmente escrever sobre o assunto ao qual eu me apaixonei de uns meses para cá. A Torre Negra.



Vou confessar: antes da mega saga de Roland e seu Ka-Tet, eu nunca tinha lido nada pra valer de Stephen King. Já tinha lido algum conto aqui e acolá, visto filmes dirigidos pelo mesmo (e vários outrs de adaptações de suas obras). Mas pegar um livro, sentar e falar “vou ler”, eu estaria mentindo se afirmasse isso com qualquer uma das obras de King.

Stephen King é duramente criticado. Talvez até justamente em alguns pontos, mas em outros é geralmente criticado por aquela meia dúzia de gente que alega que só Shakespeare é que é bom e blá-blá-blá. O jeito de escrever dele realmente é “comum”, por assim dizer. Afinal, ele não é conhecido como um dos melhores escritores populares do mundo à toa! Eu gostei de sua maneira de escrever que é sempre extremamente clara. Pode até surgir alguém que fale que ele não acrescenta nada culturalmente e cargas d’água, mas sinceramente? Foda-se. Eu realmente não tenho muita paciência com gente que “escreve difícil demais”, seja obras de literatura ou até mesmo blogs. Na verdade, tem gente que produz uns textos tão “perfeitos” na net que possuem assuntos deveras interessantes, mas ler os mesmos às vezes é um saco.

E mais uma vez eu divaguei bagarai. Sorry. Mal aê.

Na saga da Torre Negra somos apresentados a Roland Deschain de Gilead, mais conhecido como “O Pistoleiro”. Ele vem de uma nação onde sua família descende diretamente de Arthur Eld, que foi um dos maiores reis que já existiu (em bom português: ele descende do Rei Arthur). Sua família e seu clã de “pistoleiros” são responsáveis por pacificarem o mundo onde a maior parte da história ocorre. A historia começa com um Roland de idade já um tanto avançada (por volta de uns 40 anos) perseguindo um homem conhecido apenas como “O Homem de Preto” através de um deserto. Ele persegue tal homem porque acredita que ele pode revelar detalhes que o ajudem em sua busca pela Torre Negra. Mas que porra é afinal a Torre Negra?



O primeiro volume da série é basicamente isso. Roland correndo através do deserto atrás do Homem de Preto (também conhecido como Walter das Sombras). O primeiro volume é relativamente curto (pouco mais de 200 páginas) e serve para algumas coisas básicas: te deixar com vontade de ler o segundo, pois este não explica PORRA NENHUMA sobre a série em si; apresentar Jake Chambers, um garoto de New York que acompanha o Pistoleiro durante algum tempo e morre no final do livro (porque o pistoleiro assim permite); dar alguns detalhes sobre o mundo pós apocalíptico onde a história ocorre (onde vemos que o mundo é descrito como “foi adiante”); e principalmente, mostrar que Roland é gritantemente inspirado em Clint Eastwood e seu lendário “Homem sem Nome”, personagem de faroeste mais icônico da historia do cinema. Me desculpem os fãs de John Wayne, mas Eastwood é sempre será o cowboy máximo da telona. O livro termina com Roland ganhando uma série de orientações sobre sua busca (do próprio Homem de Preto) e com um monte de detalhes sobre a Torre Negra revelados, como o de sua função: ela é o nexo onde todas as realidades se encontram e, por algum motivo, ela está correndo perigo de ser destruída e, se isso acontecer, tudo deixará de existir. Walter também revela que Roland não conseguirá concluir esta tarefa sozinho, e que pessoas surgirão para acompanhá-lo em sua busca.



Termina aqui o primeiro livro.

O que é mostrado no segundo e terceiro livros (A Escolha dos Três e Terras Devastadas) é muito bom. De verdade. Aqui é onde a saga ganha cor, conteúdo e principalmente, agilidade. O primeiro livro é bem fácil de notar que foi escrito por alguém jovem. Demais. E isso é claramente remediado nos livros seguintes. Em “A Escolha dos Três” vemos Roland vir ao nosso mundo real através de portas, onde ele invade o corpo de pessoas quando as atravessa. A primeira porta ele atravessa e encontra Eddie Dean, que vem da Nova York dos anos 80. Um típico viciado em heroína da “década da perdição”. Roland o traz para seu mundo através da mesma porta e, daí para diante os dois criam uma relação de amor e ódio. O segundo personagem é ainda pior: Odetta Holmes, uma negra ativista dos anos 60. Vitima de um maluco que a empurrou na linha do trem, ela perdeu as duas pernas. Anda de cadeira de rodas, sofre de dupla personalidade (a outra é a perversa e maliciosa Detta Walker, que acaba se tornando um dos personagens mais úteis da série) e dá muito trabalho para Roland e Eddie. Mas ambos acabam se apaixonando (ela e Eddie) e dão o tom de amor da história. Ao final do livro, todos estão no mundo médio, Roland aleijado de uma mão (mas ele atira igualmente bem com ambas) e Odetta Holmes com uma nova personalidade: Susannah Dean.

O terceiro livro (as Terras Devastadas) da muitos detalhes da terra de Roland. Muitos mesmo! Aqui a obra ganha uma substancia enorme. Você consegue ver o Mundo Médio de Roland facilmente. Vemos o pistoleiro ensinar tanto Eddie quanto Susannah a arte de atirar (“eu não atiro com olho, eu atiro com o coração”), mostrar um pouco dos costumes dos pistoleiros (“você esqueceu a face de seu pai, portanto não tem honra alguma, seu merda”) e, explicar claramente o porquê de sua busca. A Torre Negra além de ser o nexo entre todas as realidades existentes é também sustentada pelos feixes de energia que correm o mundo. Sabem quando vemos um grupo de nuvens indo todas na mesma direção? Portanto, aquilo é um dos feixes. Se um dia você seguir este movimento até o fim, onde vários se encontram, você encontrou a Torre Negra. E eles estão sendo destruídos sistematicamente por alguém conhecido como o Rei Rubro. E Roland precisa chegar até Torre para ver o que há lá, é sua obsessão de vida e, tentar impedir o que está acontecendo de alguma maneira. Ele só não sabe ainda direito como fazer. O grupo se aventura através do Mundo Médio e enfrenta Shardik, um urso colossal que na verdade é um robô, protetor de uma das bases do feixe. Todo feixe tem seu guardião protetor em cada extremo e, neste caso, Shardik (o urso) fica em uma ponta e, no outro extremo, temos a Tartaruga, Maturin. Neste livro além da viagem do grupo atrás da Torre temos três acontecimentos importantes: a volta de Jake Chambers a história (não vou contar os porquês senão estraga muito), um demônio que faz sexo com Susannah e a apresentação de Blaine, o trem do monotrilho que viaja mais rápido do que qualquer coisa já vista e também viaja entre os mundos. Eles conseguem embarcar no trem, mas acabam entrando numa viagem expressa para suas mortes.



O quarto livro (Mago e Vidro) chega para assustar alguns leitores. De verdade. Ele é um volume de mais de 700 paginas e quebra todo o ritmo da historia. Ele começa com a solução do problema do grupo com Blaine e, se concentra em contar um trecho do passado de Roland. Detalhe: eles estão às portas do castelo do Mago de Oz. Viagens a parte de “Sai” Stephen King, este livro é muito bom. Ele apresenta os companheiros do inicio da vida Roland (ele os citava muitas vezes durante os livros anteriores) e conta a historia de amor entre ele e Susan Delgado. E a maneira trágica como tudo isso terminou.



O quinto livro (Lobos de Calla) é, sem duvida, um onde se perde mais tempo com explicações sobre as engrenagens da saga como um todo. Já li em vários fóruns estadunidenses (lá fora a saga é considerada um verdadeiro épico) muita gente reclamar deste livro. Ele tem muita ação sim, mas também tem “enrolação” na mesma proporção. Ao meu ver, ele serve para você entender de verdade tudo até aqui. De maneira bem coesa. Somos apresentados a pequena cidade de Calla Brin Sturgis e seu problema com os Lobos, seres misteriosos que vem a cidade a uma média de cada vinte e poucos anos seqüestrar as crianças da cidade que são gêmeas para fazer sabe lá deus o que (no sétimo livro você descobre a crueldade e o propósito de seus atos). O grupo se depara com este problema e acaba por decidir ajudar a cidade. O livro também nos apresenta a um dos globos de poder (semelhantes as esferas de poder do Senhor dos Anéis) e a mais um membro (um tanto quanto involuntário) do Kat-Tet (a palavra para referir-se a pessoas estejam ligados por um destino em comum), o Padre Calahan. O grupo consegue lidar com o problema dos Lobos, encontra mais uma porta igual as que Roland encontrou no segundo livro, perde um membro do grupo (Susannah) temporariamente, e descobre que vai ter que fazer uma série de coisas no “mundo real”, também citado na história como Mundo Chave. Neste livro também descobrimos que Susannah ficou grávida ao ter feito sexo com um demônio (em Terras Devastadas) e, que acabou por ganhar uma espécie de nova personalidade dentro de si, que toma o controle e some de vista para ter seu filho. O livro termina com o grupo tendo que se dividir quase que por completo. Uma parte dele indo atrás de Susannah e outra indo resolver os problemas que tem que ser resolvidos no mundo real, onde existe uma manifestação da Torre Negra em forma de Rosa, pois ela deve ser protegida a todo o custo.



O sexto livro (Canção de Susannah) é o único em que eu falei de verdade “para que tudo isso?”. O que vemos no livro é o grupo lidando com o problema de proteger a manifestação da Torre no mundo real e os outros membros indo atrás de Susannah, seja lá onde ela estiver. O livro inteiro fica nisso. Estende-se demais um assunto que não precisava ter durado 400 paginas. Mas tudo bem, não estraga a obra em nenhum momento. Na verdade, ele chega até a atiçar a vontade de terminar de ler logo todo o conjunto da obra.



O sétimo e ultimo livro (A Torre Negra) vem com quase 900 paginas para dar conclusão a saga de Roland. Vemos neste livro (e no anterior também) Stephen King abusar de metaficção. Ou seja, ele aparece na historia. E muito. Mesmo. Talvez seja a única coisa que eu realmente não gostei da saga. Não estraga, mas foi extremamente chato em alguns momentos ver King escrever sobre si mesmo. De verdade. E ainda mais tão próximo do final. A única coisa que vou realmente dizer sobre este livro: muitas mortes, perdas, sofrimento, revelações (como o filho de Roland e Susannah), e finalmente, a chegada a Torre Negra. O livro é muito bom. Mantém-te interessado de verdade. Mas também é cansativo em alguns momentos. No geral, todos aqueles onde vemos “Sai King” na história. Não estraga o conjunto total da obra, mas te faz pensar sobre o assunto. O final da história é muito controverso e, em qualquer fórum que você ler, você verá que as opiniões são completamente divididas sobre o assunto. De verdade. SK escreve até um ponto onde ele avisa o leitor que se você gostou de ler até aqui, pode parar. Se você quer um final feliz de verdade, pare por aqui. Mas este é justamente o problema (ou não?): eu adorei o final do livro! A historia desde seu inicio era complicada, densa, sombria e, terminar com um “viveram felizes para sempre” a meu ver teria meio que cagado em cima de tudo feito até ali. Não daria pra ter outro final, principalmente se você prestou bastante atenção nas explicações de Roland sobre o Ka (destino), onde tudo na vida gira em círculos e, quase que inevitavelmente, as coisas se repetem. Para o bem ou para o mal.



A obra é magnífica. Não tenta ser épica em momento nenhum. Não tenta ter a grandiosidade de um Senhor dos Anéis em momento algum, mas acaba conseguindo. Mesmo sem querer. Muitas vezes você percebe que SK quer fazer algo grande, mas nada exagerado. Mas ele acaba conseguindo em vários momentos ser grandioso. Você consegue enxergar a grandiosidade de tudo ali principalmente próximo do final. A serie toda tem um trilhão de referências a tudo que você puder imaginar, desde Senhor dos Anéis (o grupo que se reúne para enfrentar um mal tão grande que chega a ser absurda a idéia de que eles consigam), as lendas do Rei Arthur, Western Spaguetti (Roland é “inspirado” de maneira gritante no maior cowboy que já existiu), Star Wars, quadrinhos e tantas outras coisas.

Não, não é uma saga para qualquer pessoa ler. Talvez a grande maioria desista no meio do caminho. É de aceitação um tanto quanto difícil, isso é fato. Mas para quem gosta de ver gente que “trabalha com chumbo” em ação, eu assino embaixo e garanto: vale cada pagina.

Acho que daqui uns cinco anos eu vou ler novamente. Ou daqui a dez anos. Afinal, na vida tudo retorna em algum momento.

Alcofa (que demorou mais de um ano para ler tudo, que sabe que este post ficou enorme, mas que também sabe que não dava para escrever menos sobre este assunto, e olhem que eu resumi muito mesmo! Durante o post foi sob o som do Arch Enemy e, agora no final, é claro, ao som de Ecstasy of Gold, obra imortal de Ennio Morricone no melhor Western de todos os tempos, O Bom, O Mau e O Feio. E um tanto quanto triste pela morte de um dos maiores tenores do mundo).

3 Comments:

Blogger Unknown said...

Cara... eu li até o 4º livro (Mago e Livro) e esse post atiçou a vontade de terminar de ler!

Ah, sem contar que você esqueceu de citar as ligações fantásticas entres os livro (que sinceramente, foi a melhor sacada que já vi!)

7:07 PM  
Blogger Alcofa said...

falae cara, blz ?

eu não citei as ligações de propósito mesmo... senão o texto ia ficar maior ainda !

e corre atrás e termina a saga véio, vc não vai se arrepender !

abração!

1:34 PM  
Blogger Fifas said...

Também acho a torre negra uma obra incrivel...quando vc disse a respeito do setimo livro "Afinal, na vida tudo retorna em algum momento." Foi impressão minha ou foi proposital a relação que isso tem a ver com o fim do livro?

7:36 PM  

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